Entrevistamos via email um dos responsáveis pela viabilização da transmissão ao vivo por celular 3G do portal JC OnLine, ocorrida na última quinta-feira (28/08) durante o debate dos candidatos a prefeito do Recife. Trata-se do designer Sidclei Sobral (o segundo da esquerda para a direita foto). Formado em design pela Universidade Federal de Pernambuco, especializado em desenvolvimento de interfaces web e interessado no crescimento da web móvel e do jornalismo móvel, Sobral é um dos mais premiados profissionais do Brasil na assinatura de projetos de reportagens multimídias, dos quais o JC Online vem acumulando prêmios nos últimos anos. Ele coordena o departamento de Web-Design do JC OnLine desde 1998. Nesta entrevista Sobral comenta como foi concebido a experiência com jornalismo móvel do portal, os projetos na área mobile e também dos prêmios de jornalismo digital.
O Sistema Jornal do Commércio vem investindo em cobertura em tempo real desde 2005. Atualmente avançou com o uso da tecnologia de terceira geração. Como tem sido esta transição para tecnologias mais avançadas visando mais mobilidade para os repórteres e fotógrafos?
O Sistema Jornal do Commércio vem investindo em cobertura em tempo real desde 2005. Atualmente avançou com o uso da tecnologia de terceira geração. Como tem sido esta transição para tecnologias mais avançadas visando mais mobilidade para os repórteres e fotógrafos?
SIDCLEI SOBRAL - Por se tratar realmente de um processo de transição, as expectativas são maiores do que as mudanças propriamente ditas. A princípio, essa transição é um pouco tímida por parte de repórteres, talvez pela falta de perícia no manuseio de aparelhos mais sofisticados como o N95, apesar da boa usabilidade do aparelho. No que diz respeito aos fotógrafos, essa transição é mais natural, pois eles exploram muito mais as capacidades dos dispositivos. Falando específicamente dos repórteres do JC OnLine, estes estão muito mais animados e mais abertos a novas experiências com mobilidade, e percebem mais facilmente as potencialidades do uso de celulares como ferramenta de trabalho do repórter em situação de mobilidade. Paralelo ao uso do celular como ferramenta de trabalho, também procuramos usar o celular como canal de contato direto com o usuário, para que este possa enviar fotos, vídeos ou áudios direto para a redação. Trata-se de um canal a mais para viabilizarmos o jornalismo colaborativo, a exemplo do projeto Meu JC.
Na semana passada o portal JC Online iniciou experiências de jornalismo móvel com transmissão ao vivo através de celular do debate dos prefeituráveis do Recife. Fale um pouco sobre esta experiência. Que tecnologias vocês estão utilizando? Quais foram as dificuldades e qual o impacto da iniciativa na produção jornalística do portal?
SIDCLEI SOBRAL - Essa experiência foi muito positiva e vem sendo percebida como um marco nos mais de 10 anos de existência do JC OnLine. Tudo começou com a descoberta de uma aplicação gratuita (QIK), que abre um sinal de streaming direto de aparelhos celulares com câmera digital e acesso à internet. A partir daí foi fácil, pois tínhamos celulares Nokia N95 habilitados com plano de conexão 3G. O passo seguinte foi criarmos uma conta no site do software, fazer download gratuito da aplicação e iniciarmos os testes. Fizemos alguns testes utilizando a rede 3G e a rede wireless da redação e, em ambos os casos, os resultados foram positivos, o que nos deu segurança para tentarmos uma transmissão ao vivo de verdade. Foi o que fizemos no dia do primeiro debate entre candidatos a prefeito do Recife. O resultado da experiência foi bastante satisfatório, apesar da qualidade relativamente baixa das imagens transmitidas. Acreditamos que a baixa qualidade das imagens seja devido à oscilação da conexão 3G, pois no período de realização da transmissão, a conexão não estava das melhores. O software em si é bastante simples, permite configurações de conexão (Wi-Fi, HSDP, UMTS, etc), qualidade do vídeo (320x240, 640x480) e a definição se a visualização do vídeo é publica ou privada. No tocante à produção jornalística, não houve maiores problemas, pois o uso do celular como ferramenta de trabalho vem sendo bastante discutido, o que faz com que os repórteres estejam mais abertos a essas novas possibilidades. Um outro fator importantíssimo é o fato de que os estagiários já chegam à redação familiarizados com tais recursos, diferentemente dos "jornalistas das antigas", que são um pouco arredios a novas experiências. No caso específico da transmissão do debate eleitoral, mandamos dois repórters jovens e previamente treinados com a ferramenta.
Os celulares 3G estão sendo utilizados em que situações ou em que tipo de cobertura jornalística no Grupo?
SIDCLEI SOBRAL - Como disse anteriormente, as iniciativas ainda são tímidas dentro do Sistema Jornal do Commercio. A princípio, e não por acaso, os entusiastas dessas tecnologias são os repórteres do JC OnLine, e eles estão utilizando os celulares 3G para envio de áudio, vídeo e fotos para a redação em situações factuais de cobertura da imprensa (visitas do presidente Lula, por exemplo), cobertura de jogos importantes e em eventos que necessitem de cobertura em tempo real.
Além das iniciativas no campo do jornalismo móvel, o Jornal do Commercio e o portal JC Online são bastante premiados em relação a projetos de design e de reportagens multimídia, dos quais você é responsável pelo desenvolvimento do design. Entre os prêmios importantes estão "Prêmio Nuevo Periodismo (México) - 2007", "Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos - 2006". Como tem sido o desenvolvimento destes projetos que têm superado grupos de comunicação com uma infra-estrutura e uma equipe maior que a de vocês?
SIDCLEI SOBRAL - Graças aos prêmios, o JC OnLine vem conquistando respeito e credibilidade dentro e fora da redação. Isso é muito bom. Nos primórdios do JC OnLine (1998), o nosso papel era servir ao Sistema Jornal do Commercio de Comunicação em tudo que fosse relativo a internet. Nossa função era criar e manter os sites do sistema de comunicação. Com a solidificação do portal, a equipe ficou mais segura para desenvolver conteúdo próprio, e isso siginificava, pelo menos para mim, fazer algo diferente. E quando se trata de internet, fazer algo diferente é inovar em forma e conteúdo, livres das limitações do papel ou do tempo das mídias tradicionais. Foi o que fizemos! Graças a uma equipe unida e com um discurso coeso, foi possível desenvolver os mais variados projetos em jornalismo online com uma meta bastante clara: fazer melhor. Fazer melhor em termos de design e conteúdo. Acredito que é isso que nos leva adiante, apesar da pouca infra-estrutura e da equipe pequena que temos. Nossa percepção do jornalismo online vem se aperfeiçoando a cada dia e o advento de novas tecnologias colaboram para esse crescimento profissional. Quando olho para trás e vejo a quantidade de prêmios que conquistamos, vejo que estamos no caminho certo, e tenho o maior orgulho de fazer parte desse pedacinho da história e da evolução do jornalismo. Apesar das dificuladades peculiares de cada projeto, temos como premissa, em termos de design, superar o projeto anterior. É claro que nem sempre isso é possível, mas é nosso objetivo. Hoje em dia não se pode pensar em projetos jornalísticos multimídia, digital, interativo, imersivo, convergente ou móvel sem a figura do designer. O designer é um dos elementos-chave para desenvolvimento de qualquer documento jornalístico hipermidiático. A equação forma+conteúdo, ou design+jornalismo, é imprescindível para a formulação do jornalismo convergente.
#Legenda da foto acima: da esquerda para a direita: Thiago Lucio, Sidclei Sobral, Carol Carvalho e Jamildo Melo.
2 comentários:
Muito bacana essa entrevista. A revista Época São Paulo também está tendo uma experiência mobile bem interessante com o Urbanoblog.
Fernando, eu posso te entrevistar para uma matéria sobre o jornalismo móvel? Te mandei um e-mail.
nadjpereira@gmail.com
nadjapereira@live.com
Oi Nadja. Obrigado pelo comentário. Eu conheço o Urblog. Tem até uma postagem anterior sobre o projeto aqui. E pode enviar email tranquilamente. Não chegou nem para mim. Assim que chegar te respondo.
Abraços, amiga
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