terça-feira, 6 de maio de 2008

Miami - parte I



Volto a atualizar o blog depois de um pequena temporada fora e muito atarefado. Estive durante a semana passada em Miami, na Flórida, participando como convidado do painel "New media: cellphone, You Tube, Bloggers, and the Internet", que ocorreu no dia 2 de maio dentro da programação do 26th Annual Journalists and Editors Workshop on Latin America and the Caribbean da Universidade Internacional da Flórida. Neste painel, moderado por Terry McCoy, da Universidade da Flórida, dividi as apresentações com Marcela Sánchez do Washington Post; Carlos dada do Elfaro.Net, de El Salvador; e Francisco Toro, do Caracas Chronicles, da Venezuela. Este último falou através de videoconferência porque teve o Visto negado, provavelmente tem alguma coisa a ver com a relação nada amistosa Estados Unidos-Venezuela.

O evento foi extremamente interessante e os debates em alto nível sobre questões relacionadas à cobertura jornalística da e na América Latina e a emergência de novas ferramentas e novas mídias. Durante as sessões da manhã chamou a atenção o fato de que praticamente o Brasil dominou as discussões. A economia forte do Brasil atualmente, a tecnologia do biocombustível e a descoberta de novos poços de petróleo foram citados o tempo todo. A visão dos jornalistas e acadêmicos, presentes lá, é sobre o Brasil como uma superpotência em ascensão com uma liderança consolidada na região. Acredito que faltou apontar a identificação que, apesar da economia forte, o país ainda vive situações difíceis em diversos campos: corrupção, falta de infra-estrutura, educação ainda precária, violência permanente. A cidade organizada e estrutura de Miami, por exemplo, não se compara com as nossas (apesar de que também tem gente pedindo esmolas e assaltos em lojas, como presenciei). Durante os dias que passei por lá duas coisas chamaram a atenção: ausência total de congestionamento e uma cidade bem arborizada. Sem falar das ilhas artificiais dos famosos como Tom Cruise, Gloria Estefan, Silvester Stallone e os ônibus elétricos robotizados azuis (sem cobrador, sem motorista e o melhor de tudo: de graça). É uma realidade bem distinta. Outra questão é que apesar da economia americana está em crise e o real está supervalorizado em relação ao dólar um simples sanduiche custa em torno de $ 10,00, ou seja, algo como 17 reais na cotação atual e relativo a região de Miami Downtown.

PAINEL

Em relação ao painel que participei durante a tarde, as discussões giraram em torno das novas ferramentas para o jornalismo como blogs, YouTube, jornalismo móvel, jornalismo cidadão e como tudo isto está impactando o jornalismo tradicional dos grandes grupos de comunicação. Em Miami, por exemplo, uma boa parte dos jornalistas trabalha na condição de free-lancers. Falei com uma jornalista que colabora para o New York Times, BBC, USA Today e ela me falava que os profissionais estavam preocupados com a questão do jornalismo cidadão porque, de alguma forma, atingia os free-lancers. Enquanto que outros especialistas defendiam claramente o jornalismo cidadão como uma iniciativa louvável proporcionadas por um conjunto de ferramentas e de tecnologias como celular e câmara digital. No painel foram relatadas também diversas situações de uso de blogs como ferramenta alternativa aos meios de comunicação de massa e como isto representaria uma quebra de bloqueio. Marcela Sanchez, do Washington Post, citou o caso de uma blogueira cubana, Yoani Sánchez, que posta direto da ilha no Generación Y e tem mais de um milhão de acessos por mês. Esta blogueira recebeu recentemente o prêmio de jornalismo Ortega y Gasset, do El País por sua contribuição para a liberdade de imprensa. Para receber o prêmio o governo cubano não estava querendo liberá-la para sair do país. Francisco Toro também falou da importância do blog para uma comunicação mais aberta e fora das amarras da mídia de massa. Enquanto que Carlos Dada, do ElFaro.Net falou sobre os 10 anos deste projeto em El Salvador com uma audiência média de 50 mil acessos por semana com notícias do país.

Minha apresentação versou sobre o uso de tecnologias móveis digitais e conexões sem fio nos grupos de comunicação do Brasil. Apresentei experiências como o RJ-Móvel, da Rede Globo do Rio; O Band 3G, da Rede Bandeirantes; e o Notícia Celular, da TV Jornal do Recife entre outras inciativas neste sentido. Estas experiências chamaram bastante a atenção dos presentes por se tratar do uso mais intensivo das rede de alta velocidade dos celulares (o 3G). Exibi, por exemplo, um vídeo dos repórteres da tv Jornal trabalhando com celulares 3G Nokia N95 na cobertura do carnaval do Recife e em matérias de acidentes de trânsito e incêndios. Neste ponto, em termos de projetos para o uso da tecnologia de terceira geração no jornalismo, o Brasil parece mais avançado neste momento. O que chama a atenção nos Estados Unidos é a quantidade de conexões sem fio (wireless) abertas. Encontrei mais de 30 nas proximidades de Miami Downtown para acesso no iPhone.

UP DATE: veja o resumo do evento em PDF


2 comentários:

Anônimo disse...

Opa, Parabéns.
Se possível compartilhe o que foi apresentado por lá (slides, textos, enfim).
O comentário da moça que faz os frilas, em relação ao jornalismo colaborativo parece-me estranho. Geralmente o que muda entre ser frila ou efetivado é a relação trabalhista, visto que o processo de produção continua o mesmo: pauta, apuração, edição...diferente do colaborativo. Mas, talvez a realidade seja outra por lá.

Anônimo disse...

Massa Milani!
Fico feliz ao saber que projetos encampados no Brasil surrepreendem o "primeiro mundo". Nós do JC OnLine tentamos arranjar um tempo para ir ao Cibercomunica, mas não deu. Queriamos ir justamente para ter um feedback sobre o evento. Ah, concordo com o Yuri, se puderes disponibilizar algum material do evento a casa a gradece. Valeu!