quarta-feira, 22 de julho de 2009

Por que o jornalismo móvel se tornou praticável?


O jornalismo e mobilidade não é novo. Nem as tecnologias portáteis. Entretanto, a expansão de experiências e estudos sobre a área aumentaram consideravelmente nos últimos cinco anos devido a um fato concreto: atualmente há uma estrutura técnica e estratégica que favorece a prática do jornalismo móvel. Esta estrutura é formatada por um conjunto de tecnologias móveis digitais sofisticadas (smartphones, câmeras digitais, netbooks, etc) e conexões sem fio (3G, Wi-Fi, WiMax e Bluetooth). E tudo isto vincula-se a uma rede banda larga móvel que instaura uma mobilidade sem precedente na produção, consumo e emissão de conteúdo (áudio, vídeo, imagens e textos).
É importante demarcar esta ambiência centrada no início do século XXI, principalmente a partir de 2004 em diante, para que possamos analisar o cenário do jornalismo móvel de uma forma mais objetiva. Em 2000, 2001 alguns autores falavam do tema de uma forma incipiente e ainda na condição futura de possibilidade do desenvolvimento do jornalismo móvel como John Pavlik (2001), no livro Journalism and New Media, e Stephen Quinn (2002), no livro Knowledge Managemente in the Digital Newsroom. A tecnologia mais avançada para a prática e citada por Pavlik era um Palm Pilot com reconhecimento da escrita. O Palm Pilot lançado em 1996 tinha uma mémoria interna de 128 kb.

A década de 1990 foi promissora para a expansão dos chamados Handhelds e Palmtops. Mas no início deste século as configurações dos dispositivos (e suas interfaces) melhoraram consideravelmente em paralelo ao surgimento das conexões banda larga móvel. Neste sentido, estamos diante de práticas impensáveis há dez anos. O conceito de jornalismo móvel, na sua acepção atual, está atrelado ao uso de tecnologias móveis digitais em redes móveis para potencializar a mobilidade de repórteres na prática jornalística. O curioso notar é que as conexões 3G abriram espaço para transmissões ao vivo via celular para redes de tv. Antes era impensável esta possibilidade pela inexistência de redes móveis com capacidade de tráfego de dados pesados como vídeo. Experiências brasileiras como a da TV Band e da Tv Jornal do Recife demonstram como o futuro do streaming no celular já está aqui. Naturalmente que as redes em breve aumentaram sua capacidade de alargamento com as redes 4G com velocidades de transmissão, download ou upload muito superior à tecnologia 3G.

Ferramentas para o Repórter 3G - Atualmente surge o que se denomina de repórter 3G ou repórter móvel. O ambiente móvel de produção, constituído por inúmeras ferramentas portáteis, impulsiona a prática ao colocar à disposição do repórter em campo as condições necessárias para apurar, navegar por banco de dados, editar conteúdo e emitir do local do acontecimento. Na prática isto vem ocorrendo em algumas circunstâncias e situações. Durante a solenidade de despedida de Michael Jackson o repórter da Globo, Rodrigo Bocardi (vídeo abaixo), utilizou a mini-câmera Flip para gravar sua passagem de dentro do estádio. Os netbooks, ainda pouco utilizados pelos repórteres, podem se transformar em breve numa estação de trabalho devido a sua portabilidade (minicomputadores de 7, 9, 10 polegas) e capacidade (120, 160 de HD) oferecendo condições para atividades mais complexas de edição. O Nokia N95, N96 e N97 ainda são os celulares ideais para a prática por possui recursos mais sofisticados para o jornalismo como câmera de 5 megapixels, gravador digital, teclado bluetooth e a possibilidade de agregação de outros acessórios de produtividade. O iPhone 3GS vem com novos aperfeiçoamentos e conta com uma quantidade enorme de aplicações disponíveis o que transformará o dispositivo num podero smartphone para o jornalismo móvel.

2 comentários:

Demétrio de Azeredo Soster disse...

Bem observado, Fernando: é de 2004 para cá que se estabelece com mais visibilidade o cenário do Jornalismo Móvel. Lembro que, em 2000, apesar de já trabalharmos em uma perspectiva multimidiática (site do Jornal NH), ainda que não necessariamente de forma convergente, tinhamos, na (falta de) mobilidade um dificultador considerável. Ou seja, havia tecnologia, mas todo o trabalho de edição estava centralizado na redação, haja vista que, aos repórteres, cabia apenas recolher as informações e encaminhá-las à edição. Vejo como um dos grandes méritos do Jornalismo Móvel não apenas o fato de dinamizar o processo produtivo das redações, mas também permitir aos jornalistas novos instrumentais ao que pretendem dizer em suas matérias. Por outras palavras, desta forma eles têm, parece-me, mais amplitude de diálogo. Grande abraço!

Fernando Firmino da Silva disse...

Demétrio, sua observação, digamos assim, empírica nos ajuda a compreender este cenário do jornalismo móvel. Antes tínhamos tentativas de estabelecimento de conexão com as redações para o trabalho jornalístico. Mas certamente hoje o cenário é distinto e mais complexo. Tivemos a expansão e velocidade das redes móveis (tecnologia 3G, Wi-Fi) e o desenvolvimento de celulares ou smartphones com funções sofisticadas de captação (vídeo, áudio, imagens); edição (textos, audiovisual); e emissão (via conexões sem fio). Esta estrutura avançada sem dúvida alguma é identificada de forma mais clara a partir de 2004 para cá. Outro detalhe importante é a quantidade de aplicações que emergiram durante este período para a realização de streaming como Qik, Kyte, sites móveis, aplicações do Twitter e por ai vai. Ou seja: a web móvel já é uma realidade. Para nosso argumento é importante observar como esta apropriação ocorre em relação ao jornalismo e sua integração às rotinas jornalísticas. Esta, claro, é uma parte para minha tese de doutorado.

Abraços e obrigado pelos comentários pertinentes